terça-feira, 31 de janeiro de 2012

DOCE LEMBRANÇA


Quando lembramos de uma situação, de um momento  que vivenciamos, no decorrer de nossa vida, sentimos uma nostálgica saudade. Isso acontece, porque foi especial, bom e doce. Lembro-me de minha mãe Rosabela, e minha tia  Zica, declamando o poema: A Louca de Albano, estória antiga, portuguesa, em versos, de autor desconhecido, com toda emoção e eloquência. A sonoridade do violino, dedilhado, por tia Olga, com ânimo e emoção, as acompanhava  através, das músicas românticas e rigorosamente escolhidas.
Era um autêntico "sarau" onde nos deleitávamos com a plenitude do momento, em que hoje, percebo a importãncia do vivenciado, naqueles dias tão especiais e únicos. Minha tia-avó Estrela, com sua maestria culinária, nos deliciava com seus quitudes, elaborados com as mãos e o coração de uma genuína libanesa.
Guardo tudo isso, como uma lição de amor, de afeto e de carinho, doada por todas elas,  para que meus filhos e netos saibam que a verdadeira "escola" é simples, sábia e acolhedora, e se origina da  principal instituição que é a FAMÍLIA.
Doces lembranças que me nutrem e são bálsamos para minha alma,
revigorando-me a cada dia que passa.

Abaixo se encontra a poesia.



"A Louca de Albano"

- Anda cá, meu filho, escuta: És amigo de sua mãe?
- Oh, minha mãe, que pergunta?
- Basta, meu Paulo, pois bem. Vai ver a velha Vicenza o amor que o filho lhe tem. Faz hoje 20 anos que teu pai morreu a golpe deste ferro, para meu mal e eu, a vir vingá-lo, fiz uma jura fatal...
- Uma jura? Mãe santíssima! Oh, minha mãe, o que jurou?
- Eu jurei por este sangue, que em ferrugem se tornou, que tu Paulo matarias, quem teu pai matou.
- E matas, meu filho?
- Mato.
- Matas, seja quem for?
- Mato.
- Ainda que esta vingança lhe roube do seio o amor?
– Mato.
- Tome este ferro, é Ricardo o matador.
- Ricardo, o pai de Maria? Oh, minha mãe, perdoai...
- Pela amante o pai esquece, filho ingrato, parte e vai, cumpre a jura ou sê maldito se não vingares a teu pai.
Nesta noite, tinto em sangue, com os cabelos no ar, o assassino de Ricardo, foi aos pés da mãe prostar o punhal com que jurara, do pai a morte vingar.
Riu-se a velha de contente e abraçou o vingador, mas que de súbito aparece na porta uma estátua de dor:
- Paulo, meu Paulo, perdi meu pai não vês? As lágrimas que aqui derramo assistiram ao triste fim. Quis falar-me e já não pode, com os olhos fixos em mim, expirou... "Vingança eterna". Tu vingas, meu Paulo, sim?
- Vingo, Maria, sossega, eu sei quem teu pai matou, vai morrer com o mesmo ferro que a pouco o transpassou.
Assim disse e a punhalada no próprio peito cravou...
Foge a moça espavorida, deixa Albano sem parar, chega a Roma no outro dia, por toda parte a gritar:
- "Quem me mata por piedade, quem me acaba de matar?"
E assim vagou três dias, sendo que no quarto enlouqueceu, quando passa o viajante, quando passa o Coliseu, vê a triste às gargalhadas, vingança pedindo a Deus...
- Ha, ha, ha, ha, ha, ha, ha...

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